Memórias LORD: Surfe e Mídias Brasileiras – Continuação

de Lord

Surfe e mídias brasileiras; a evolução

Continuamos hoje a nossa viagem pelo mundo do surfe e das mídias brasileiras. O surfe profissional estava definitivamente instituído mesmo com as críticas pelo excesso de etapas, pelos critérios de julgamento e a baixa premiação, era preciso definir novos rumos. Go!

Em julho de 1984 é utilizado pela primeira vez um sistema de processamento de notas, desenvolvido pelo norte-americano George Stokes. No mesmo ano surgiu no Brasil a empresa Beach Byte, que desenvolveu um sistema com a mesma finalidade e que seria usado a partir do evento Hang Loose Pro Contest de 1986 como teste, para no ano seguinte ser utilizado definitivamente. A mudança dinamizou o circuito mundial e mudou substancialmente o envolvimento do público nos campeonatos. Um avanço, mas ainda pouco para transformar a competição em um grande espetáculo.

Anos 90 – Sucesso dos brasileiros e o início das transmissões em massa

O mundo vivia o desenvolvimento das suas redes de telecomunicações. No contexto do surfe mundial temos o início da divisão do circuito em dois e a consagração de um fenômeno mundial e um ídolo inquestionável; Kelly Slater. Seis dos seus onze títulos vieram na década de 90, sendo uma verdadeira inspiração de velocidade e agressividade nas manobras que seguiriam atuais até os dias de hoje. Acompanhe aqui os números de Kelly Slater no WCT.

Em 1991 temos a estreia do primeiro programa de esportes da MTV em todo mundo. O Ombak, apresentado por Cesinha Chaves e dirigido por Antônio Ricardo, foi um pioneiro programa de esportes de aventura na televisão brasileira.

Foto: divulgação

O cenário do surfe brasileiro era um dos melhores, já que em 1991 Fábio Gouveia e Teco Padaratz não precisavam mais disputar as triagens pois estariam entre os top 30. Fato esse muito importante pois nesse ano foram selecionados os primeiros top 45 para a estreia do WCT no ano seguinte.

Em 1992 a ASP cria um novo sistema de rankings combinados dando origem ao WQS (Word Qualifying Series) e o WCT (Word Championship Tour), dividindo assim os atletas. Com esse cenário temos Fábio Gouveia como primeiro brasileiro entre os top 16, ficando na 13° posição, e conquistando outro importante feito; a primeira vitória de um brasileiro no Havaí. Já Teco ganharia o título da divisão de acesso no primeiro ano do WQS. O surfe brasileiro também ganhava visibilidade com eventos, das 42 etapas do WQS oito delas foram realizadas no nosso país em etapas no Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Pernambuco.

1993: Antônio Ricardo produziu o Mapa Da Ação, um programa diário, de cunho jornalístico sobre esportes de ação, mostrando também a previsão metereológica para a prática do surfe no estado do Rio de Janeiro e retornou com o Realce, em rede nacional, pela CNT.

Jojó de Olivença, bicampeão brasileiro, quebra um importante tabu; o primeiro negro na elite do surfe mundial.

1994: A Tríplice Coroa Havaiana, pela primeira vez na história, teve seus resultados divulgados on-line pela internet. Houve a criação da revista eletrônica semanal de esportes radicais, conhecida como RIP, também idealizada por Antônio Ricardo.

1995: Os áudios das transmissões já eram disponibilizados para o público. No Brasil o programa WQS transmitia o circuito mundial de divisão de acesso, além do surgimento do telejornal EXTRA, vencedor do prêmio de “Melhor Cobertura do Circuito Mundial de Surf da ASP” em 1997 e 1999.

1996: A empresa Portugal Telecom disponibilizava os aúdios, vídeos e resultados dos campeonatos em tempo real.

1997: Surge o programa Zona de Impacto na SporTV.

Anos 2000 – A consagração de uma história de sucesso

Começamos essa década com o novo circuito brasileiro de surfe profissional, que passa a se chamar Super Surf. Victor Ribas em terceiro lugar entre os top 16, em uma lista com nomes como Occy, Taj Burrow, Sunny Garcia e Rob Machado. Adriano de Sousa aos 14 anos já assumia o posto de promessa para o país. Temos o início das discussões acerca da evolução e do atraso do surfe brasileiro, mudanças nos critérios de julgamentos e o início de regras antidoping.

2002: Petrobras investe 800 mil reais no país em apoio ao surfe nacional, com o Circuito Petrobras de Surf Feminino, destaque para Silvana Lima campeã em 2002, 2003 e 2004 e o Petrobras Longboard Classic.

2004: O canal SporTV faz sua primeira transmissão ao vivo do WCT com imagens da internet. O interesse veio após a etapa da Gold Coast registrar 183 000 acessos.

Temos também uma importante obra para o surfe nacional, a estreia do documentário “Fábio Fabuloso” que conta um pouco a história do nosso primeiro campeão mundial amador em 1988.

Foto divulgação

2005: O início das transmissões em português do circuito mundial em Fiji, válida pela quarta etapa, com Kelly Slater campeão. Para no ano seguinte, em Mundaka na Espanha, termos uma transmissão exclusivamente em português, como conhecemos atualmente.

2006: Beach Byte disponibilizava o primeiro sistema de vídeo replay durante o Billabong Pro Girls, em Itacaré na Bahia. Para em 2007 a ASP adotar o sistema em todo circuito.

2008: Adriano de Sousa, o Mineirinho, assume o top 10 por cinco anos consecutivos, para em 2015 conquistar o seu primeiro campeonato mundial, o segundo título brasileiro.

2010: Canal Woohoo atinge a marca de 1 000 000 de residências e se torna referência do mundo do surfe.

2011: A estreia do Canal OFF e em 2012 o canal adquiriu 10 episódios da ASP Men’s Championship Surfing Tour dos anos de 2012 e 2013.

Trinta e oito anos separam o início do Circuito Mundial de Surf e o primeiro título brasileiro. Nomes como Pepê Lopes, Rico de Souza, Daniel Friedman, Fábio Gouveia, Teco e Neco Padaratz, Jojó de Olivença, Peterson Rosa, Victor Ribas, Bruno Santos e Mineirinho não podem ser esquecidos quando o assunto são as glórias do nosso surfe.


A partir de 2014 os rumos do surfe no Brasil se tornariam ainda mais vitoriosos com o bicampeonato de Gabriel Medina (2014 e 2018) e a conquista por Adriano de Sousa (2015) e Ítalo Ferreira (2019). Segundo Pedro Dau de Mesquita, diretor comercial da 213 Sports – agência de marketing esportivo da WSL Brasil, a virada de chave da modalidade ocorreu em 2015. Na ocasião, Medina já tinha sido campeão mundial no ano anterior e a etapa do Rio de Janeiro foi o evento de maior audiência da história do surfe. Pedro conta para o site da Isto É:

“Fizemos uma parceria com a Globo e a final foi transmitida ao vivo por 40 minutos, alcançando mais de 21,5 milhões de pessoas. Ali o surfe deixou de ser um esporte de nicho e virou popular. Começamos a perceber uma mudança no comportamento das pessoas.”.

E os números não param de impressionar, atualmente 30% da audiência nas plataformas no mundo é de brasileiros, à frente de Austrália e equilibrada com Estados Unidos, além de 90% do público de surfe no Brasil nunca ter subido em uma prancha. Ou seja, o Brasil tornou-se o principal mercado e um dos principais focos de investimentos.

Vivemos uma ascensão do surfe brasileiro e com ele esse novo público atraído pelas redes sociais, por um maior destaque do esporte na grande mídia, por esse caminho vitorioso que temos seguido. Uma nova geração que ainda conhece pouco as grandes histórias, surfistas e os personagens ilustres que antecederam a Brazilian Storm. Essa foi a nossa ideia, queremos mais do que contar essas histórias, queremos fortalecer elos entre presente e passado para que essa trajetória linda não se perca entre as gerações.

A seguir uma entrevista com Klaus Kaiser e Andre Gioranelli sobre o universo das transmissões da WSL.

Klaus Kaiser, em 2015 temos a primeira transmissão em português, com o auxílio do lendário Mano Ziul, em Fiji. Conta pra gente como foi e as primeiras dificuldades enfrentadas.

“Em Fiji, em 2005, nós tivemos a primeira transmissão da história do surfe mundial em inglês e em português no mesmo canal. Era o mesmo microfone para os dois locutores, uma da língua inglesa e o outro em português. Para a próxima etapa, em Mundaka na Espanha, termos uma transmissão exclusivamente em português em canais diferentes. Eu particularmente não estava em nenhuma dessas etapas, mas quero deixar aqui o meu reconhecimento e o meu agradecimento ao mago da informática Mano Ziul, da Beach Byte, que possibilitou as transmissões de surfe via internet e o sistema de computação de notas. Na minha opinião o surfe se divide em antes e depois dessa primeira transmissão. É tecnologia brasileira a serviço do surfe mundial.”.

Qual a responsabilidade em ser a principal fonte de informação e formação para o novo público do surfe?

“Ser locutor de eventos de surfe da WSL não é você simplesmente narrar uma onda. Hoje em dia você tem que trazer o público para junto do evento, como se ele estivesse na areia. Com o advento da internet o público de surfe hoje ele é gigantesco e muita gente que acompanha surfe nunca viu praia e nem surfe ao vivo. Eu acho muito legal poder cativar novos fãs para o esporte, essa responsabilidade é muito grande e eu sou muito grato por poder fazer isso tudo”, conta Klaus.

Andre ainda ressalta sobre essa nova fase das transmissões. Hoje se faz necessário ensinar aos novos internautas informações básicas sobre o esporte para que esse interesse continue vivo no decorrer das etapas. Desde manobras, equipamentos, condições do mar, bases dos surfistas e a sua experiência como ex-surfista profissional facilita esse contato.

Quais as dificuldades em não estar nos locais de competições?

“Nós viajamos pelo tour por dois anos, 2016 e 2017, para depois passarmos a fazer as transmissões do estúdio da Califórnia. Com esse novo cenário nós perdemos muita informação técnica e de bastidores, desde medidas de pranchas, tática de competição, técnicos, família e patrocinadores.”, conta Klaus.

Andre Gioranelli ainda completa sobre a importância do contato com os shapers, a sua bagagem como ex-surfista profissional e a sua experiência nas cabines de locução dos campeonatos, desde quando competia pelo Super Surf e narrava disputas pós bateria. Tudo isso se torna fundamental para que o máximo de informações cheguem até as nossas casas.

Foto: arquivo Klaus Kaiser

Essa foi a nossa pequena linha do tempo para contarmos algumas histórias que tanto nos deixava curiosos. Queremos agradecer aos nossos parceiros e amigos de trajetória que tanto somos fãs, Klaus Kaiser (narrador da WSL) e Andre Gioranelli (ex-surfista profissional e analista da WSL) e ao Alberto Alves (surfista, editor, fotógrafo e músico) que nos teletransportou para o universo dos amantes do surfe exploração. Um grande abraço!

Fontes:

FERREIRA, Ana Carolina Matuchewski. O SURF E A TV ABERTA – UMA ANÁLISE MIDIÁTICA DOS ANOS DE 2014 E 2015. 2018. 52 p. Conclusão de curso (Educação Física) – Bacharelado, Curitiba, 2018.

Datas, atletas e campeonatos

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