Memórias LORD: Surfe e mídia brasileira

de Lord

Evolução do surfe e da mídia brasileira, linha do tempo

Por natureza nós surfistas somos seres nostálgicos. Cultuamos aquele último swell perfeito do inverno passado, relembramos aquela prancha mágica que quebrou, revemos aquelas fotos da última surftrip com os amigos. Veneramos o passado porque temos medo de perder essa essência que tanto nos une. Nesse Dia Internacional do Surfe queremos presenteá-los com mais um culto ao passado. Vamos contar aqui, em uma breve linha do tempo, como o acesso à informação evoluiu com o surfe. I’t On!

Década de 60 – Primeiros Passos

Temos o ínício do surfe competição com o australiano Midget Farrelly como primeiro campeão mundial. Até 1972 o surfe foi decidido em eventos únicos na Austrália, Califórnia, Peru e Porto Rico. No contexto de produção de informações, desde a década de 50, muito se falava sobre os filmes hollwoodianos que mostravam o cotidiano das praias da Califórnia, a moda praia e o sucesso da surf music. Mas também deu origem a um outro segmento de filmes que já se preocupava com a essência da cultura surfe. E assim, em 1962, surge a revista Surfer Magazine que inicialmente tinha como pauta esses filmes, para depois se propor a ser um importante canal de informações para o esporte, como conhecemos hoje.

Enquanto isso, no Brasil, em 1965 temos a fundação da primeira organização de surfe do país com a Associação de Surf do Estado do Rio de Janeiro e o seu primeiro campeonato oficial. As nossas pesquisas não contemplaram como as informações circulavam no nosso país nessa época, mas essas associações sempre tiveram um papel primordial em ser porta voz pro esporte.

Década de 70 – O início da consolidação do surfe no Brasil

O ano é 1975 temos a primeira revista brasileira a inspirar os surfistas do país. A Brasil Surf publicava, em sua primeira edição, a lista de convidados para o Primeiro Campeonato de Saquarema. Nessa época, revistas americanas como a Surfer Magazine e a International Surfing tinham acesso muito restrito no país encontradas, praticamente, em bancas de revistas nos aeroportos de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Primeira edição Foto: @revistabrasilsurf

Em 1976 nós temos o início dos mundiais decididos em várias etapas com a criação da International Professional Surfing (IPS). Uma delas foi a 9ª etapa do circuito realizada no Arpoador em um dia histórico para o Rio de Janeiro, com a vitória de Pepê Lopes, que mais tarde seria documentado em um filme.

Já em 1978 temos o fim da revista Brasil Surf e o lançamento de uma importante produção cinematográfica brasileira, o “Nas Ondas do Surf”. Muito parecido com os documentários de surfe que conhecemos hoje, com a ilustre participação de Ricardo Bocão e Pepê Lopes, foi um importante contato para muitos jovens que não conheciam o freesurf no Havaí, os campeonatos, atletas e manobras presentes no Festival Nacional de Saquarema e ainda no Primeiro Circuito Mundial no Arpoador.

Como o Klaus Kaiser, narrador da WSL, nos contou, era uma “epopéia” aguardar os resultados das etapas. Por semanas e até meses se esperavam informações sobre os vencedores nos Estados Unidos, na África do Sul com o Gunston 500 e até mesmo do Pipe Master. Elas vinham com os atletas que competiam no exterior, com viajantes e em pequenos informativos distribuídos nas fábricas de pranchas que mais tarde dariam início a várias revistas, como a Inside de Santa Catarina.


Década de 80 – O boom do surfe brasileiro

O cenário brasileiro era promissor para o desenvolvimento do surfe e das informações no Brasil. De um regime militar para uma democracia, a abertura econômica permitiu o contato massivo com os VHS, bem no início da década. Foi muito comum a troca e a cópia de fitas dos campeonatos e filmes do exterior sendo a fonte que permitiu a comunidade do surfe poder ter contato com seus ídolos como Tinguinha Lima, Mark Richards, Dadá Figueiredo, Tom Curren e até mesmo, como inspiração para novas manobras.

Em 1982 a Sony lança o primeiro aparelho VHS fabricado no Brasil e permitiu que campeonatos como o Hang Loose Pro, em 1986 na Praia da Joaquina, e o Fico Surf Festival no ano seguinte, em Salvador, fossem vistos por todo país. Pudemos perceber, nas nossas entrevistas, como esses dois eventos estão na memória de surfistas de norte ao sul consagrando a importância da cópia e o repasse de fitas VHS.

Fico Surf Festival em Stella Maris / Foto Divulgação

O surfe, a partir de 1982, ganha mais um meio de comunicação em massa; a rádio. A Maldita Fluminense foi pioneira nos boletins de onda no Rio de Janeiro, nas transmissões de campeonatos que aconteciam na cidade e até mesmo na cobertura da etapa de Ubatuba válida pelo 1° Circuito Brasileiro de Surf Profissional, em 1987. A rádio foi tão importante para o país que a Association of Surfing Professional (ASP), fundada em 1983 mudando seu nome para WSL em 2015, durante os anos de 1989, 1991 e 1992 elegeu a Fluminense FM como a melhor rádio de surfe do mundo.

Já em 1983 temos a estreia do programa de televisão Realce com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo, expandindo o surfe para mais um meio de comunicação. Temos também o início da revista Fluir de São Paulo, da Inside e várias outras impulsionadas pelo sucesso das surfwears. São marcos para o esporte, com auge na década de 90, que iremos detalhar em breve.

O alberto Alves com quem pudemos trocar várias informações, nos permitiu teletransportar para essa década. Seja para as sessões de cinema privadas para surfistas em São Paulo e no Guarujá, seja nos encontros para repassar projeções com fotos e informações dos picos conhecidos pelo surfe exploração. Ficou curioso? No vídeo a seguir o Klaus e o próprio Alberto narram um pouco sobre suas tragetórias no surfe no contexto dessa linha do tempo. São muitas histórias que queremos contar na nossa próxima matéria, com a ajuda do Klaus Kaiser, do Alberto Alves e do Andre Gioranelli. Estamos On Hold!

Fontes:

Melo, Victor Andrade de, & Fortes, Rafael. (2009). O surfe no cinema e a sociedade brasileira na transição dos anos 70/80. Revista Brasileira de Educhttps://dx.doi.org/10.1590/S1807-55092009000300009

Campeonatos, datas e atletas – http://www.datasurfe.com.br/

Entrevistas com Klaus Kaiser, Alberto Alves e Andre Gioranelli

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